Dos Severino aos coronéis

“O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias”

João Cabral de Melo Neto já mostrava na década de 1950 a tradição de se ligar o nome dos filhos aos dos pais, não apenas com sobrenomes, mas com os prenomes, certamente de mais fácil identificação. Ressalte-se que havia precariedade no registro oficial de nascidos, as certidões de nascimento. Aí virava mesmo Severino de Maria do Zacarias.

Esse introdução é para nos lembrarmos que este ano temos eleições gerais e que ainda persiste o costume de se chamar filhos com os nomes dos pais políticos. Não tão caricatos como em Morte e Vida Severina. Ainda que existam excentricidades por esse mundão do interior.

Nesse caso é mesmo um aval, um atalho, uma vantagem que o candidato tem sobre aqueles de famílias menos “tradicionais” na política. Na esquerda e na direita há os que mantém a tradição do coronelismo. De Bolsonaro a Arraes, de Calheiros a Campos, ter sobrenome tradicional é, por vezes, mais importante que plataformas e ideais.

Aqui no Maranhão podemos ir de Leitoa a Sarney, de Coutinho a Tema, de Tavares a Evangelista, de Fernandes a Marreca, de Braide a Cutrim. Pouquíssima renovação. Muita manutenção de poder nas mãos das famílias tradicionais, sobretudo interioranas.

A diferença do Severino para esses políticos é que aquele percorreu vida de sofrimento buscando melhores condições na capital. Já os herdeiros dos votos vem do interior pra manter a vida boa, o domínio, a tradição de serem superiores aos milhões de Severino explorados e expulsos de suas terras.

1 Comentário

  1. Lucio disse:

    A estrutura política no Brasil se confunde com genealogias e famílias. O impacto é negativo porque impede a renovação, a entrada de novos grupos sociais na política. Impede portanto a plena representação política plural e, consequentemente, a democratização.

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